A premissa é recorrente em desenhos infantis principalmente nos projetos da Disney e Pixar. Aliás, é notória a “cópia” (ou seria homenagem?) de algumas cenas como a do aquário, que remete claramente ao curta Boneco de Neve da Pixar. Já alguns personagens parecem ser inspirados em Toy Story, como a lagarta Feijão que tem muitos quês da Jessie, de Toy Story 2. Aliás, o próprio Rango parece ser uma mistura de Woody com Buzz Lightyear.
Apesar dessas referências o resultado é bastante satisfatório. Acredito estar sendo justo quando digo que Rango é superior aos três primeiros filmes da franquia Os Piratas do Caribe, dirigido por Gore Verbinski e também estrelado por Johnny Depp.
O cenário do desenho é desértico e embora a trama se passe na atualidade, o desenho se enquadra perfeitamente como um legítimo faroeste. A aridez do deserto é perfeitamente combinada com os personagens com sotaques caipiras e aparência grotesca. Répteis, anfíbios e até mesmo coelhos e aves, tão costumeiramente desenhadas como fofinhos são aqui feios e sujos. Personagens duros mas com uma índole boa.
Essa escolha no tratamento dos personagens talvez assuste alguns pais e muitas crianças, mas a verdadeira história, por trás da jornada do camaleão, exige essa secura. Afinal trata-se de dois temas importantíssimos. O primeiro sobre o uso de recursos hídricos. Mais de uma vez é citada a frase “Quem tem a água tem o poder!”, esclarecendo a relação espúria que a classe dominante tem em relação a classe dominada.
O segundo grande tema é a relação dos excluídos com o poder dominante. Quem não tem nada muitas vezes se contenta com o pouco por achar que essa é a única realidade possível. Quase como se fosse uma hipnose, conforme uma das cenas mais marcantes de Rango, os excluídos se alinham em fila para aguardar a esmola. Ou no caso retratado, a água.
Pena que, como também retratado em Carros, é um forasteiro da cidade grande que após enganar a população humilde do interior consegue num ato heróico ao mesmo tempo se encontrar enquanto indivíduo e salvar a comunidade. Ou seja, a mesma ideologia que o filme combate no final se revela como a salvadora. Não chega a estragar a história, mas a impede de tornar-se excepcional.
Vencedor do Oscar 2012 de Melhor Animação
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