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terça-feira, junho 11, 2013

Faroeste Caboclo

A longa demora de estrear no cinema após a conclusão das gravações fez me duvidar da qualidade do filme do diretor René Sampaio. Ainda mais por se “inspirar” numa das canções brasileiras mais famosas e considerada por fãs – ou não – como um roteiro pedindo para ser adaptado.

Considerando todas liberdades e limitações que a transposição de uma obra (um romance, biografia, uma música, por que não?) o resultado da clássica música de Renato Russo composta por ele em 1979 e só lançada no terceiro álbum do Legião Urbana em 1987 é mais do que satisfatório: é um bom filme!

Claro que muitos fãs ficaram (ou ficarão) chateados com alguns dos trechos que estão na música mas não estão no filme, como a conversa com o boiadeiro (que pra mim, até hoje, não faz nenhum sentido) ou os primeiros meses de João na cidade linda.


Fica muito evidente, desde os primeiros minutos que a opção de René Sampaio foi o de tornar João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira, de Tropa de Elite 2) num personagem mais próximo aos faroestes americanos, tornando-o vingativo, mas um homem que quer ser correto, apesar de seus desvios. E isso explica de forma convincente – novamente, ainda que muitos fãs não concordem – com o final clássico do duelo, deixando de lado todo o propagandeio da música original.

Pablo, interpretado pelo ótimo uruguaio César Trancoso (O Banheiro do Papa) também tem sua personalidade suavizada ao passo que Jeremias (Felipe Abib), pelo menos para mim, é o mesmo traficante de renome da canção. Já o policial interpretado por Antonio Calloni não estava evidente na letra de Renato Russo, mas caiu como uma luva ao dar uma coesão interessante à história que, apesar de admirada, tem, como outras do início do Legião Urbana, algumas desconexões perdoáveis para adolescentes compositores, mas imprudentes numa produção de cinema.

E se há uma parte frágil no filme é a história de Maria Lúcia. Se na canção original sua personalidade não foi muito explorada e fiquemos com dúvidas sobre o caráter da mocinha, no longa ela é um pastiche inverossímil para ajudar a contextualizar a Brasília dos anos 80. Ser acadêmica da UnB e filhinha de um senador depõe contra a história e a atuação frágil de Ísis Valverde acentua este contraste. E é essa personagem também que destoa da construção clássica dos faroestes já que é mais ela quem tenta salvar a vida de João do que o contrário.

Guardadas as proporções e considerando cada obra em sua área, o longa Faroeste Caboclo é um bom filme brasileiro e merece ser visto, independente por sua inspiração na música de Renato Russo em sua época de trovador solitário. O longa resolve algumas fragilidades da canção, mas deixa de lado alguns aspectos interessantes que poderiam até deixar o filme melhor.

Ainda sim, se considerarmos que a visão de Renato Russo em 1979 sobre um imigrante que vira bandido/herói/santo por conta de circunstâncias históricas e sociais continha trechos naturalmente impregnados da visão de um adolescente de classe média alta (Ele queria sair para ver o mar / E as coisas que ele via na televisão); a visão de René Sampaio glorifica um pouco mais a construção de João de Santo Cristo.
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Nos dois casos, “não tinha medo o tal João de Santo Cristo”. E se no longa ele não “comia todas as menininhas da cidade”, nem “Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro”das velhinhas, muito menos ia pra zona da cidade às sextas-feiras, pelo menos ele não foi à Brasília pra  “falar pro presidente pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer”.

Direção: René Sampaio
Roteiro: José Carvalho, Paulo Lins
Elenco: Antonio Calloni, César Troncoso, Cinara Leal, Fabrício Boliveira, Felipe Abib, Giuliano Manfredini, Ísis Valverde, Marcos Paulo, Rodrigo Pandolfo
Origem: Brasil
Estreia: 2013
Classificação: 16 anos



3 comentários:

Deroní Mendes disse...

Muuuuuito Bacana. Gostei bastante, meu amor. Mas como comentei com você, por ser uma ultra fã do Legião e da música, esperava bem mais do filme...

André Alves disse...

esse é um problema das adaptações. os fãs geralmente se decepcionam...
mas você gostou. E o melhor foi assistirmos juntinhos no cinema, não é mesmo?

Renato Dering disse...

Gostei do posicionamento, mas eu ainda esperava um pouco mais.

 
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