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quarta-feira, novembro 08, 2006

Manderlay

Apesar de ser uma continuação à altura de Dogville, com Nicole Kidman, Manderlay não foi recebido tão bem pela crítica, muito pelo contrário. Em parte, acredito, que o impacto visual do primeiro filme, sem cenários, já não causa o mesmo espanto.

Pra quem gosta de trailers, como eu gosto, o de Dogville foi pra lá de subversivo, não se falava do filme, mas da experiência dos atores, que foram levados para Europa, ficaram confinados em estúdio para a gravação, sem saber, no início o que era a primeira história da trilogia imaginada por Lars von Triers (que nunca pisou nos states): América – Terra das Oportunidades.

Já em Manderlay, o apelo (anti-)estético é mantido e a meia hora final é tão angustiante quanto a do primeiro filme, mas o assunto abordado, principalmente a forma com que foi abordado, fez com que para muitos críticos Triers fosse rotulado de racista. Não vou explicar muito, para não perturbar o olhar de quem me lê e irá assisti-lo. Grace, a mocinha da trilogia, agora vivida por Bryce Howard Dallas (filha do diretor Ron Howard, do excelente Mente Brilhante e do razoável Código Da Vinci), vai parar, junto com o seu pai na fazenda que dá nome ao filme.

Ná decada de 30, ela descobre que a senhora que tomava conta da propriedade, mantinha os negros na condição de escravos, mesmo que a abolição lá na “terra da democracia” já tivesse acontecido 70 anos antes. Mais, a senhora classificava os negros por categorias, de I a VII (o esperto, o palhaço, o camaleão, entre outros). É claro, que na maior tradição Sinhá Moça, mas com muito mais autoridade e firmeza, Grace vai propor a liberdade para os escravos e uma sociedade na produção, como forma de, mais do que liberdade, dar trabalho e renda a estes últimos escravos estadunidenses.

E é aí que pessoas sérias e pseudos anti-racistas podem cair na armadilha demasiadamente ousada do diretor. Parece que os negros de Manderlay não ficaram tão contentes com a liberdade; depois de livres já não se dedicaram com tanto afinco no trabalho; mesmo livres, não trataram de melhorar suas casas. Grace, a mocinha, tenta de diversos modos animar essas pessoas, mas a cada tentativa gentil e bem intencionada, o resultado nem sempre é bom, e a história vai se complicando.

Entre as cenas, o Narrador (também presente em Dogville) vai tecendo os seus comentários irônicos sobre tudo o que acontece e apresenta alguns personagens, como o jogador profissional que vai de fazenda em fazenda, contratados pelos latifundiários, para arrancar todo o dinheiro dos trabalhadores negros e assim mantê-los numa condição anágua de antes da abolição. Apesar da pequena participação, é fundamental para entender toda a trama. Mas o personagem mais enigmático é mesmo Danny Glover, o mais velho do grupo. Vocês vão saber porquê.

É apenas o terceiro filme que vejo do diretor. Vi também Europa, muito bom, e parte da série Kingdom Hospital, que Stephen King adaptou para a TV americana. Mas dá pra afirmar que, pra quem gosta de cinema, realmente, ir atrás de suas obras é um ato de bondade para o nosso cérebro.

Se vc não viu o filme, pare por aqui!

Enfim, na minha visão, Triers não fez um ato racista no filme, muito pelo contrário, mostrou algumas visões que muitos grupos tem em relação ao tema tratado e que ajudam a nortear (ou a sulear) o que deve ser o capítulo final da triologia. Em Dogville, mostrou que a religião e os bons costumes camuflaram atitudes insanas (ou normais?), a nudez imoral por baixo do mundo de aparências. No final de Dogville, essas pessoas mascaradas tem um final trágico e a mocinha, que aparentemente tinha ido se esconder do papai, vai com ele parar em Manderlay.

Em Manderlay, o mundo do ideal abolicionista estadunidense é desmistificado é várias teorias de como o fim da escravidão lá (e em boa parte dos países) foi mais por causa econômica do que humanitária. E que mesmo que a idéia seja aparentemente humanitária (exemplificada pela mocinha do filme) o resultado pleno desejado não será alcançado se não for discutida pela coletividade e se condições minímas não forem construídas.

Ou seja, pra mim, o diretor está descascando toda a roupagem de bom moço dos estadunidenses e mostrando uma versão de que os pilares da sociedade americana são apenas fachada (religião e moral no primeiro filme, democracia e igualdade no segundo). Não me espantaria se, no filme que fecha a história, Grace se revele não ser uma boa moça afinal e que ela, representando os próprios EUA, decida tomar a frente nos negócios do pai (representando a Inglaterra). Ou não!

Nota 10

1 comentários:

Anônimo disse...

Bem, não vi tudo esse sentido que o André viu no filme. Considerando, que pra mim a arte é algo mais simples e sagaz do que pensa o mundo "contemporâneo", ainda mais quando é cinema, se o diretor quis mostrar isso que meu estimado amigo André viu, pra mim mostrou mal. Digo que deveria ser mais direto. Mais machadiano. O que eu vi foi uma heroina ingênua quebrando a cara. Uma ingenuidade(ingenuidade essa que em dogvile não tinha) forçada em uma situação também forçada. Após o ocorrido em dogvile só uma idiota, ou irma mais nova, para querer dar uma de Bono Vox. hehehehe!!!! No máximo mandava os brancos embora e deixava o "populacho" se matarem.

 
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