A França, berço da Igualdade, Fraternidade e Liberdade e que na década de 60 era admirada pelo mundo pela sua exuberante intelectualidade atualmente é percebida como um poço sem fundo do xenofobismo. É nesse contexto que Caché, de Michael Haneke, nos angustia ao sentirmos o incômodo da família Laurent que passa a ser vigiada.
No começo do filme temos quase três minutos pasmacentos da frente de uma residência em aparece alguém saindo e nada mais. Quando descobrimos se tratar de uma reprodução de uma fita VHS que o casal Laurent recebeu e que aquele alguém é o marido Georges (Daniel Auteuil) entendemos a intenção do diretor.Georges e sua esposa Anne (Juliette Binoche) ficam intrigados ao ver a fita e começam achando que é traquinagem de um amigo do filho Pierrot. Mas quando outras fitas surgem com desenhos de bocas sangrando e galinhas decepadas o casal fica mais preocupado e vai à polícia, que não pode fazer nada, pois não há uma ameaça explícita.
Pierrot e Anne talvez tenham algo a esconder mas o filme não diz se tem muito menos o que poderia ser. Já Georges acha que as fitas vêm de um argelino que quando criança sua família quase adotou, depois que os pais deste provavelmente morreram num confronto com a polícia em um manifesto no final dos anos 60.
A partir daí o roteiro mostra como o racismo instaurado na França tem ares de naturalidade e a crítica do que é o normal, o exagero, o repugnável e o justo está nos olhos de quem assiste. A inteligência da história está em nos fazer pensar nisso durante toda exibição e não só no final. Incômodo desde o início e revoltante (no bom sentido) no final faz a gente se questionar onde estão os motivos de nossas desconfianças.
Caché França/Áustria/Alemanha/Itália, 2005. 117 mins. Direção: Michael Haneke. Estrelando: Daniel Auteuil, Juliette Binoche, Lester Makedonsky, Maurice Bénichou, Annie Girardot, Walid Afkir. Distribuidora: Califórnia Filmes.
Nota 09
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