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sábado, janeiro 28, 2012

Capitães da Areia


Era de se esperar que a adaptação de um dos melhores romances de Jorge Amado levado ao cinema por sua neta, Cecília Amado, abrindo as comemorações pelo centenário do nascimento do escritor fosse um feito na indústria cinematográfica. Infelizmente não é. Apesar de não ter cometido algumas falhas grosseiras como as da adaptação de Cacá Diegues em Tieta do Agreste, de 1996, ou as da versão de Sérgio Machado em Quincas Berro D'Água, de 2010, Cecília cometeu outros erros tão graves quanto.

A escolha acertada em manter a história na década de 30 do século XX se mostrou pouco enfática na contextualização sócio-política da época. Quem não leu o livro ou não conhece um pouco da história do Brasil pode não entender algumas das passagens mal exploradas do filme. Não estou falando que precisava de didatismo, mas de uma organicidade melhor à narrativa.

Outro problema grave é o próprio elenco. Pedro Bala, Professor, Gato, Dora e demais personagens quase sempre estão caricaturais soando muitas vezes um teatro improvisado que a câmera ágil tentava disfarçar. Não, a culpa não é dos 12 atores não profissionais escolhidos dentre 1.200 candidatos. O problema reside na falta de uma melhor preparação desses meninos para atuar em uma obra tão importante. Vale dizer que Cidade de Deus recorreu também a atores não profissionais e se saiu muito bem.

Tenho que dizer ainda da equivocada escolha de algumas cenas. A cena do assalto a mansão, por exemplo, fortemente inspirada na série Missão Impossível, por mais inacreditável que isso possa parecer, assim como a aceleração das cenas de luta de capoeira, tentando disfarçar a falta de ritmo, são apenas dois dos exemplos. Ou seja, as cenas de ação pecam justamente por não terem ação. Ainda é preciso dizer que a tentativa de sensibilização à imagem de Dora com pequenas pausas entediantes depõem ainda mais contra a história.

Não, mas não quero dizer com isso que o filme é ruim como um todo, mas é muito fraco, muito aquém do que uma homenagem a Jorge Amado merecia. Conta a seu favor a força da obra em si, as belas imagens e algumas cenas que conseguem ser emblemáticas, apesar de tudo que já foi mencionado. A trilha sonora composta por Carlinhos Brown e o personagem de Zéu Britto complementam a dissonância entre a promessa e o cumprido. Tudo fora do lugar, o que às vezes funciona, mas não foi o caso aqui. Assim como é difícil entender onde foram investidos 9 milhões de reais.

Jorge Amado fazia muito mais por muito menos! Em nome de sua memória, seria melhor que não se tentassem mais fazer adaptações de suas obras até que se encontrem roteiristas, diretores e atores realmente comprometidos com a obra e não somente com um possível lucro.

Direção: Cecília Amado, Guy Gonçalves
Elenco: Jean Luis Souza de Amorim, Romário, Israel Vinícius Gouvêa de Souza, Paulo Raimundo Abade Silva, Roberio Lima, Ana Graciela Conceição da Silva
Roteiro: Cecília Amado, Hilton Lacerda
Origem: Brasil
Estreia: 2011

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