Agora que todo mundo já viu Tropa de Elite, parece até carne-de-vaca também fazer comentários. No entanto, devo dizer, que fiquei mais estarrecido com algumas das críticas e entrevistas sobre o filme do que surpreendido com a produção em si. Ainda que o diretor José Padilha negue que seja uma adaptação de Elite da Tropa, livro do ex-Bope Rodrigo Pimentel, este co-assina o roteiro. No mínimo, o que se pode concluir é que Tropa de Elite é uma obra de ficção com os dois pés calcados na realidade. Tanto a ponto de, dizem, o governador do Rio de Janeiro ameaçar processar seus realizadores caso alterações não fossem feitas na obra.
Fiquei estarrecido em muitas das críticas e reportagens dizendo que neste filme os traficantes são tratados como bandidos e os policiais como mocinhos. Até Alberto Pinheiro Neto, comandante do BOPE, afirmou em entrevista à Época (Ed. 491) que o capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura no filme) virou herói. Herói? O que eu vi nos 118 minutos de projeção foi uma demonstração de como a sociedade está um caos. Da polícia comum corrupta, a intransigência do BOPE, passando pelos esquemas do sistema. O herói Capitão Nascimento mata primeiro e atira depois, tortura para obter as informações que se quer e até faz Jack Bauer parecer maricas.
Acredito que muitos afirmarão que para proteger a sociedade isso se faz necessário. Não concordo com isso, mas nas “atuações” do capitão Nascimento, que sociedade ele estava protegendo? Subindo o morro para salvar policiais que foram pegar propina e matar um policial que tentou passar por cima do esquema da corporação? Na segunda vez que sobe o morro é por arrependimento de ter deixado um moleque fogueteiro ser assassinado por sua causa. Na terceira é para vingar a morte daquele que seria seu substituto, que só morreu pela arrogância do companheiro (André Matias), que fez questão de se passar por mocinho em favela dominada pelas drogas. Wagner Moura construiu um personagem humano, mas não herói. E me assustou ver cidadãos chamando-o de herói, quando na verdade só agiu para satisfazer seu ego.
Uma outra coisa que chamou atenção foi, derivada das incursões da polícia na favela, é que os policiais culpam a burguesia de financiar o tráfico. De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas divulgado esta semana 62% do consumo de drogas é da chamada Classe “A”. No entanto, o filme não mostra (e, acredito que propositalmente) os problemas sociais advindos do tráfico a não ser a guerra entre traficantes e policiais. Estes querendo proteger quem? Ninguém aparece pedindo proteção do tráfico. Aparecem apenas comerciantes pagando propina a policiais contra roubos e furtos. E sempre que a polícia sobe o morro é movida por motivos particulares, não pelo bem da sociedade, como tanto apregoa o capitão Nascimento.
E ele, que queria sair do BOPE para se dedicar ao seu bebê que acabara de nascer, mostra que seu perfil intransigente também se aplica à família. Por amor a esposa ou para diminuir o stress, só sossega, ao que parece, quando encontra um substituto à altura. Movido por motivos vingativos, torna violento o único personagem que se aproximava do perfil de um mocinho no filme: André Matias.
Enfim, Tropa de Elite é um filme muito interessante. Mas achei surpreendente mesmo o que Tropa de Elite deixou passar nas entrelinhas. Só não viu quem não quis.
Nota 08
Fiquei estarrecido em muitas das críticas e reportagens dizendo que neste filme os traficantes são tratados como bandidos e os policiais como mocinhos. Até Alberto Pinheiro Neto, comandante do BOPE, afirmou em entrevista à Época (Ed. 491) que o capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura no filme) virou herói. Herói? O que eu vi nos 118 minutos de projeção foi uma demonstração de como a sociedade está um caos. Da polícia comum corrupta, a intransigência do BOPE, passando pelos esquemas do sistema. O herói Capitão Nascimento mata primeiro e atira depois, tortura para obter as informações que se quer e até faz Jack Bauer parecer maricas.
Acredito que muitos afirmarão que para proteger a sociedade isso se faz necessário. Não concordo com isso, mas nas “atuações” do capitão Nascimento, que sociedade ele estava protegendo? Subindo o morro para salvar policiais que foram pegar propina e matar um policial que tentou passar por cima do esquema da corporação? Na segunda vez que sobe o morro é por arrependimento de ter deixado um moleque fogueteiro ser assassinado por sua causa. Na terceira é para vingar a morte daquele que seria seu substituto, que só morreu pela arrogância do companheiro (André Matias), que fez questão de se passar por mocinho em favela dominada pelas drogas. Wagner Moura construiu um personagem humano, mas não herói. E me assustou ver cidadãos chamando-o de herói, quando na verdade só agiu para satisfazer seu ego.
Uma outra coisa que chamou atenção foi, derivada das incursões da polícia na favela, é que os policiais culpam a burguesia de financiar o tráfico. De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas divulgado esta semana 62% do consumo de drogas é da chamada Classe “A”. No entanto, o filme não mostra (e, acredito que propositalmente) os problemas sociais advindos do tráfico a não ser a guerra entre traficantes e policiais. Estes querendo proteger quem? Ninguém aparece pedindo proteção do tráfico. Aparecem apenas comerciantes pagando propina a policiais contra roubos e furtos. E sempre que a polícia sobe o morro é movida por motivos particulares, não pelo bem da sociedade, como tanto apregoa o capitão Nascimento.
E ele, que queria sair do BOPE para se dedicar ao seu bebê que acabara de nascer, mostra que seu perfil intransigente também se aplica à família. Por amor a esposa ou para diminuir o stress, só sossega, ao que parece, quando encontra um substituto à altura. Movido por motivos vingativos, torna violento o único personagem que se aproximava do perfil de um mocinho no filme: André Matias.
Enfim, Tropa de Elite é um filme muito interessante. Mas achei surpreendente mesmo o que Tropa de Elite deixou passar nas entrelinhas. Só não viu quem não quis.
Nota 08
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