Mais de 8 mil mortos e
120 mil feridos em acidentes de trânsito por ano na Argentina. Esta
trágica estatística, que não é muito diferente do Brasil,
considerando-se nossas dimensões, é o tema de fundo de mais um
ótimo filme de nossos hermanos. São chamados abutres os advogados
que se aproveitam do momento de fragilidade das vítimas para
abocanhar parte (ou todo) de seus seguros.
Talvez esses abutres
não existissem se as seguradoras não complicassem tanto para que
seus segurados recebessem suas devidas indenizações. Mas esta não
é a história do filme e sim de um abutre específico, Sosa,
interpretado pelo sempre ótimo Ricardo Darín (O Segredo de seusOlhos, O Filho da Noiva) que após conhecer a jovem médica Luján
(Martina Gusman) quer deixar essa atividade ilegal e começar uma
nova vida. O que não vai ser fácil pois ele tem uma dívida com a
“fundação” onde trabalha.
A partir dessa história
não muito diferente de muitas produções hollywoodianas, o diretor
Pablo Trapero nos apresenta uma cruel realidade de trapaças e
corrupção que envolve não apenas advogados, mas também segurados,
médicos, e como não poderia deixar de ser, a polícia.
É essa abordagem
inovadora que engrandece a trama, onde esse universo vai se
construindo aos poucos, deixando nas entrelinhas a complexidade e
crueldade dessa rede da bandidagem. Mas o roteiro também é hábil
em mostrar uma sociedade argentina decadente que leva, por exemplo,
uma pessoa quebrar sua perna para burlar o sistema e receber o
seguro.
E ainda, como mesmo um
trabalho tido como nobre, a medicina, sujeita médicos de hospitais
públicos a uma rotina exaustiva, quase sem tempo para descanso,
tendo que socorrer vários acidentados ao mesmo tempo que convivem
com outras tensões, como uma briga com tiros dentro do hospital. Apesar da dura
realidade, o filme nunca apela para o melodramático, provando a
competência do diretor em conseguir contar uma história palpável e
ainda com alguns momentos de certo lirismo como na cena de uma festa
de debutante.
Por ser uma história
com forte apelo realista que começa com Sosa levando uma surra para
lembrá-lo que ele tem que saldar sua dívida, o final consegue ser,
apesar de um pouco previsível, tão bombástico quanto a denúncia
que apresenta.
Mais uma vez a
Argentina se mostra como um país com uma produção cinematográfica
de reconhecimento invejável. Não que o Brasil não tenha essa ótima
produção. O problema aqui é que ao invés de prestigiarmos os bons
filmes brasileiros preferimos assistir às produções medíocres da
Globo Filmes.
Apesar de termos
problemas sociais parecidos, esse mal, a Argentina parece não ter
por lá.
Título original: Carancho
Direção: Pablo
Trapero
Elenco: Ricardo Darín,
Martina Gusman, Carlos Weber, José Luis Arias, Loren Acuña, Gabriel
Almirón, José Manuel Espeche
Roteiro: Alejandro
Fadel, Martín Mauregui
Origem: Argentina
Estreia: 2010
3 comentários:
cinema brasileiro está condenado a comediazinhas bobocas de tipos repetitivos.Como não sabem criar personagens,diálogos e roteiros inteligentes, a coisa se reduz a repetir piadas e tipos de besteirol:o pobre malandro,o nordestino herói,o rico decadente,o bandido vítima do sistema,o empresário explorador, o homossexual excluído,a madame alienada,o militar tapado,blá-blá-blá.....cinema brasileiro é refugo de novela.
Salve, mundico. Eu discordo quase que completamente de você. Tem um monte de filmes ruins brasileiros, sim. A maioria sob o selo da Globo Filmes, mas tem muitos ótimos, inclusive, alguns poucos sob o mesmo selo. Talvez tenha te faltado sorte na escolha dos filmes para assistir. Mas nosso cinema é sim, de qualidade. Por isso eu faço questão de no meu blog ter uma sessão específica para os brazucas.
Ainda bem que existem pessoas como voce Andre, somos a minoria, mas a maioria é sempre burra mesmo.
Postar um comentário