Intocáveis

O maior fenômeno da bilheteria francesa é um filme belo, sobretudo por ser inspirado em fatos reais, sobre uma improvável amizade entre Philippe (François Cluzet), um milionário tetraplégico e seu “ajudante” Driss (Omar Sy). Os diretores e roteiristas Eric Toledano e Oliver Nakche, a partir do livro de memórias do próprio Philippe, conseguiram construir uma história crível e principalmente bem humorada, mostrando dois mundos distantes, porém complementares.

De um lado o milionário tetraplégico, completamente dependente de terceiros para viver e do outro o “enfermeiro” Driss, um senegalês que já não via um futuro para si. Em um momento complicado pra Driss surge a oportunidade de trabalho, que para ele era, ao menos no início, quase que um capricho para mostrar que era capaz – ainda que relutasse em fazer coisas simples como colocar meias no milionário.



As cenas cômicas e o completo descaso de Driss pela deficiência de Philippe nunca deixam a história cair no piegas. E sua dança, em certo momento do filme, encantou grande parte da platéia feminina. Em contrapartida, a atuação firme de Cluzet nunca chega a ser suficiente para aprofundar os contrastes que separam os amigos, além dos óbvios branco/negro, rico/pobre, nativo/estrangeiro, cultura clássica/cultura popular.

E talvez esses ingredientes sejam alguns dos segredos do sucesso do filme: fala do que já sabemos, do que acreditamos, despidos um pouco das convenções sociais.

Intocáveis é um filme que toca justamente por não precisar aprofundar o que as pessoas já sabem e de humanizar e tornar cômico o que temos de difícil na vida.

A única coisa que me incomodou um pouco foi a apelação para agradar o público americano. Não que deixe, necessariamente, de ser um ótimo filme. O próprio tema é recorrente nos Estados Unidos, como Antes de Partir (2007) e Melhor é Impossível (1997), apenas para citar dois bons exemplos com Jack Nicholson. Mas as nadas sutis referências aos Estados Unidos, como a trilha sonora regada a Earth, Wind & Fire, e as citações a políticos ianques como Obama, Romney e Bush, faz parecer que a França ultimamente - e olha só que ironia - venha abusando em suas carícias cinematográficas ao país que, décadas atrás, fora justamente criticado por deturpar o cinema.




Título Original: Intouchables
Direção: Eric Toledano, Olivier Nakache
Roteiro: Eric Toledano, Olivier Nakache
Elenco: César Trancoso, Virginia Mendez, Virginia Ruiz, Mario Silva, Henry de Leon, Jose Arce, Nelson Lence, Rosario dos Santos
Origem: França
Estreia: 2012