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quinta-feira, abril 18, 2013

Amor


O amor entre pessoas idosas não é um tema recorrente no cinema e quem assistir de forma desprevenida pode estranhar o filme do austríaco Michael Haneke, conhecido por sua forma “seca” de tratar temas como a violência, o preconceito, a solidão e a família. Em Amor, um casal de idosos da elite cultural da França tem sua rotina alterada após o derrame da mulher Anne (numa forte interpretação de Emmanuelle Riva, um ícone do cinema francês, assim como o ator Jean-Louis Trintignant, que faz seu marido no filme).

O final da história nós já sabemos logo na primeira cena, quando policiais invadem o apartamento do casal e só encontram uma mulher deitada na cama: Anne está morta. A forma com que Haneke conduz a história, de certa forma doce, ainda que completamente crua e com pouco espaço para outros adjetivos melosos, aliada a forte interpretação do casal dão a tônica necessária a um tabu da nossa sociedade.



O universo de Anne e Georges é o seu apartamento, com o piano da mulher, a poltrona do marido e as centenas de discos e livros. Eles estão fora apenas nos primeiros minutos quando estão assistindo a um concerto de piano e na vinda para casa, onde os diálogos são propositalmente inaudíveis pela música do concerto.

Saindo do geral para o particular, o apartamento do casal é a zona de conforto dos idosos que, graças a uma combinação de enquadramento e iluminação, parece pequeno no início da história, mas vai se tornando enorme a medida que a doença de Anne se agrava.

Enquanto isso Georges e Anne tentam conviver com a doença – e o destino que lhes aguarda – da melhor forma possível em casa, já que ela pede para que não volte ao hospital.

As dificuldades vão aparecendo, pois a mulher precisa de atenção quase que constante e Georges há muito não tem a vitalidade necessária, mas o profundo amor e respeito dos dois fazem com que o marido se sacrifique ao máximo e a esposa tente não precisar dele a todo momento, o que se revela impossível. O que poderia ser ajuda, família, amigos, vizinhos e enfermeiras logo se mostram um fardo a mais. Reparem bem nas sutilezas das falas da filha do casal e na cena do teatro e na cena final. A falta de atenção, as cobranças, a piedade ajudam a corroer a força do velho casal e o destino certeiro está cada vez mais próximo.

Com Amor, Haneke não quer discutir uma relação de casais. Assim como ele não quis discutir outros temas em seus filmes anteriores como Violência Gratuita, Caché e Código Desconhecido. Ele apresenta uma situação com bastante verossimilhança com um final forte, mas sem sair de uma realidade possível.

Assim como em certo momento do filme Georges acorda preocupado com sua esposa em outro momento desperta de um pesadelo, sufocado pela vida que estão levando. Assim como um café da manhã comum de um casal se torna uma tarefa complicada ou outros hábitos cotidianos precisam ter a privacidade jogada fora. O que parece simples vai tornando abismal, seja pelo apartamento que parece crescer, por vícios que voltam ou pela falta do que eles mais necessitam: a vida dos dois como era antes.

O que nos incomoda não é a história de Amor, nem as cenas impactantes da velhice nem o seu final. O que nos incomoda é saber que muito provavelmente todos nós estaremos na pele de um daqueles personagens em algum momento da vida.


Título Original: Amour
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Elenco: Emmanuelle Riva, Jean-Louis Trintignant , Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, Ramón Agirre, Rita Blanco, William Shimell
Origem: França / Áustria
Estreia: 2012 – Estreia Brasil: 2013


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