Depois de “Cidade de Deus”, Fernando Meirelles, que só tinha antes realizado os fracos “Domésticas” e “O Menino Maluquinho 2”, transformou-se numa promessa em Hollywood. Sua estreia foi bem melhor que a de Walter Salles e fez o ótimo “O Jardineiro Fiel”. Já em “O Ensaio sobre a Cegueira”, temos uma ótima história em que muitas das reflexões de Saramago não conseguem ser passadas para a película.
Tudo bem, é outro formato, o produto é outro. Não é o livro de Saramago em imagens. Mas me incomodou o fato de não ser muito empolgante como filme muito embora tudo o que era necessário para ser um bom filme estivesse lá: Roteiro interessante, foco nos atores e não na doença que causa a “cegueira branca”, ótimos atores, intrepretação e cenários minimalistas.
Mas, faltaram três coisas que pra mim não são, necessariamente, fundamentais. 1) ritmo – Em certos momentos parecia que o roteiro não sabia para onde nos levar e mesmo a cena mais impactante (a do estupro) merecia um suspense crescente para ficar realmente impactante; 2) trilha sonora – Não ajudou em nada, fazia tempo que não via nada tão preguiçoso e 3) clímax na hora errada.
Tudo bem, se você viu e gostou sabe que não é um filme de mocinho e bandido, é sobre os nossos limites, sobre como é frágil a civilização e como bastaria tirar uma peça que tudo se desequilibra. Eu também gostei do filme mas achei que valeu quase que somente pela personagem de Juliana Moore, a única que não foi infectada pela “cegueira branca” e que antes da doença se resumia a uma “mera ajudante do marido” Mark Ruffalo. A cena em que ele pede para ela ajustar o despertador mostra bem isso. Sem recorrer ao ditado mais do que batido e óbvio: “Em terra de cegos quem tem um olho é rei” a sua visão, ou seja a sua superioridade em relação aos demais a fez uma heroína ao contrário do cego de nascença que também ficou trancafiado no asilo.
De mera expectadora passou a uma líder nata, que consegue resolver os problemas, tem o dom de perdoar a traição do marido e mostrar simpatia a amante dele, tem o poder de guiar um grupo de cegos tirando do asilo em que foram deixados para o mundo de sonhos (sua casa), mas que só funcionaria daquele jeito, com sua superioridade. Mas que triste, se a cegueira das pessoas, assim, de repente, acabasse?
Nota 07
PS. Seguem duas sugestões de filmes sobre os limites do ser humano: O Assassinato de um presidente e O Senhor das Moscas.
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