sexta-feira, maio 29, 2009
Dexter
No final de 2007 me deparei em algum site com está série e logo baixei as duas primeiras temporadas. Chamou-me a atenção ser baseada num livro Darkly Dreaming Dexter, de Jeff Lindsay (que no Brasil teve a péssima tradução de Dexter – a mão esquerda de Deus, e olhe que em grego Dexter quer dizer destro). Também tem uma ótima, apesar de longa, abertura onde já revela muita coisa da personalidade do personagem. Não tenho como deixar de mencionar que poucos episódios e o elenco enxuto são uma atração a parte assim como atores muito bons. A começar pelo personagem-título, interpretado por Michael C. Hall (da série A Sete Palmos) e de sua irmã, interpretada por Jennifer Carpenter (do eficiente O exorcismo de Emily Rose).
Bom, mas vamos a história. Dexter é um órfão adotado por um policial que logo cedo descobriu sua ira psicopata e fez de tudo para canalizar esse instinto assassino para algo que fosse o menos prejudicial possível. O personagem então é um serial-killer de seriais killers e outros assassinos que a justiça não conseguiu condenar. Todas as temporadas são centradas no departamento de polícia onde Dexter trabalha. Sua profissão? Perito criminal, especialista em sangue. Icônico, não?
Na primeira temporada ele tem um concorrente a altura, na segunda um imitador (que viríamos a saber que se trata de seu irmão) e na terceira um discípulo. Mas mais interessante que o roteiro, a direção e o elenco conseguir fazer com que torçamos pelo assassino é o aprofundamento psicológico dos personagens.
Claro que Dexter é o mais complexo. Na segunda temporada desvendamos a possível origem de sua sociopatia, um trauma repugnante que afetou a ele e seu irmão de sangue. Mas ele consegue mascarar bem sua ira e se mostra um cara meio esquisito mas com uma índole boa, amigo, companheiro, sempre disposto a ajudar. Com o passar dos episódios ele vai se mostrando cada vez mais humano (mas ao mesmo tempo um assassino (quase) sem ressentimentos e os capítulos finais da segunda temporada mostram bem isso, de forma bastante espetacular). A imagem leve que a série nos mostra é porque é narrada em primeira pessoa onde são revelados seus pensamentos mais obscuros diante dos fatos em que ele está lidando. A maioria é hilário, ainda que puristas achem ofensivos. Mas afinal, nós fazemos isso o tempo todo. Usamos máscaras sociais a fim de parecermos melhor e não fazemos e dizemos tudo que realmente se passa no nosso íntimo a bem de um, na maioria das vezes, forçado contrato social. Algumas cenas onde ele narra seus pensamentos frente a seus dilemas no trabalho ou mesmo com seus encontros com a então namorada são absolutamente hilários… e verdadeiros.
Interessante notar também como ele tem todas as caracterísicas de um sociopata: inteligência acima da média, desprezo pelos sentimentos alheios, ausência de culpa, capacidade de interpretar papéis e achar justificativas lógicas (na visão dele, bem entendido) para o que ele faz, mas mesmos essas características não são sempre, 100% assim. Ele segue um código de honra que seu pai morto lhe impôs e conversa com ele o tempo todo, mostrando que ele tem uma crença no sobrenatural ou é a sua consciência, mas ele ainda não sabe disso.
Mas ele não é o único personagem complexo, pois a trama ficaria rasa. Todos os personagens são dúbios. A namoradeira irmã Debra Morgan é uma boa policial mas sua ambição é ser detetive e por mais que tente ser ética nem sempre consegue. A chefe Maria LaGuerta passa por cima da ética e tenta seduzir quem pode para obter o que quer. O colega de trabalho, Vince Masuka é um cara de coração bom mas extremamente pornográfico e se acha divertido quando todos acham-no repugnante. Até mesmo, Rita Bennett, a namorada das duas primeiras temporadas, noiva e esposa na terceira e será mãe de seu filho na quarta tem segredos a esconder.
De todos, na terceira temporada quem mais me chamou a atenção é o personagem de Angel Batista. Nas temporadas anteriores soubemos que ele perdeu a família e se afundou no alcoolismo na tentativa de ser o melhor policial possível. Nesta ele sai com uma prostituta e na hora do vamos-ver ela se revela uma detetive disfarçada mas não o prende por ele ser “colega”. Em outro episódio ela o refuta e pede para ele não vir com explicações tolas mas ele confessa que tudo que queria era um pouco de companhia, de carinho. Ela vira sua namorada mas tem uma personalidade forte que lhe causa muitos ciúmes e ele tem uma chance para descobrir segredos pessoais delas e pede ajuda a Dexter. Este descobre um segredo mas avisa: “há portas que não devem ser abertas”. Angel resiste mas aceita não saber o que é.
Todos as três temporadas são extremamente eficientes no desenrolar da trama, encerram-se no último episódio a ponto de você achar que acabou, de vez. Mas quando vem a sequência, tudo faz muito sentido e não descamba (até agora) para o forçado.
E esse dilema sobre o que é ser bom, o que é ser mal, o que é moral, o que é ético, com os suspenses sempre empolgantes fazem a série ser instigante e ao mesmo tempo divertida. E o melhor (ou pior), nos faz ver que – tirando os assassinatos – somos todos um pouco Dexter.
Dexter primeira temporada – 09
Dexter segunda temporada – 08
Dexter terceira temporada - 09
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