O Livro das Revelações

Me deparei por acaso com esse filme no Telecine. Havia achado o nome curioso e quando vi a sinopse achei mais curioso ainda. Escrito e dirigido pela australiana Ana Kokkinos a história inverte os papéis de um abuso sexual e mostra que as conseqüências podem também ser nefastas.

Um dançarino famoso desaparece na véspera da apresentação do espetáculo da sua companhia. Sua companheira parece agir de forma um pouco resignada, acreditando que ele tenha fugido com alguma mulher, mas a coreógrafa do espetáculo, que aposta em Daniel como um discípulo, preocupa-se e nega a acreditar que ele faria algo tão infantil.

Doze dias depois Daniel reaparece e aos poucos descobrimos que ele foi seqüestrado por três mulheres que o usaram para satisfazer suas necessidades e fantasias sexuais. Mas antes que qualquer machão arrote que qualquer um aceitaria isso num boa é preciso dizer que não é bem assim. Primeiro porque ele tem uma companheira e não quer traí-la. Depois porque ele está com as mãos e pés amarrados e tem que passar pela humilhação de urinar acorrentado e ter uma mulher dando banho com toalhas úmidas. E se negar a satisfazer os desejos das mulheres pode ser punido fisicamente o que poderia facilmente encerrar sua carreira de dançarino. Assim, apesar da mente rejeitar essa humilhação o corpo, em muitos casos, obedece aos impulsos sexuais.

A primeira medida chegamos a desconfiar que as mulheres sejam da própria companhia de dança, mas a história é muito mais complexa quando Daniel não consegue contar a sua esposa e muito menos contar a polícia, já que os policiais com quem ele foi falar acharam risível a história. Transtornado, parte em uma busca compulsiva atrás dessas mulheres que nunca revelaram seu rosto, mas deixaram transparecer algumas marcas corporais e tatuagens.

Apesar de um pouco lento e enquadramento convencional não tem como não fazer um paralelo com o francês Irreversível, com Monica Bellucci e Vincent Cassel. Não na história em si, mas no impacto que um terrível abuso pode causar na vida não só do abusado, mas também das pessoas mais próximas.
Um filme sério, despido de estereótipos e com um desfecho perturbador. Sem dúvida uma triste e importante reflexão sobre nosso tempo.

Nota 07


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