Google+ Cinema e Mídia: Precisamos Falar Sobre o Kevin

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quinta-feira, janeiro 19, 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin


A única coisa pior do que perder um filho é descobrir que ele é um assassino. Esta é a história de Precisamos falar sobre o Kevin, adaptação do homônimo livro da escritora americana Lionel Shriver. Kevin (Ezra Miller), filho mais velho de Eva (Tilda Swinton, num dos papéis mais importantes de sua carreira) e de Franklin (John C. Reilly), comete um crime terrível na escola onde estudava, mas não é necessariamente sobre isso que o filme quer tratar.

O mais importante é mostrar o pesado sentimento de culpa da mãe, uma guia turística e escritora que ao invés de encontrar a tão mitificada felicidade na maternidade, encontrou o sofrimento, a tortura e a solidão. Desde bebê Kevin se mostrou uma criança problemática e birrenta aos olhos da mãe, mas normal e muitas vezes especial aos olhos do pai e médicos.

Este drama, às vezes propositalmente lento e confuso, faz a gente se perguntar o quanto de fato Kevin era uma criança alheia a este mundo e o quanto ela foi sendo formada assim pela sua mãe austera e seu pai ingênuo. Ainda bebê Kevin chora incessantemente e nada que a mãe faça consegue fazê-lo parar. Ela sai angustiada a andar com seu filho no carrinho e mesmo assim ele não cessa o choro. Desesperada a mãe para em frente a uma obra onde o som da britadeira sufoca por alguns instantes o choro da criança.

É este o tipo de mãe que o filme mostra. Que não percebe as vontades do seu filho ou prefere ignorar, pois aparenta estar mais angustiada de ter perdido sua liberdade. Ao mesmo tempo em que ele é birrento, aparenta ter problemas de fala e já grandinho, por volta dos cinco anos, ainda usa fraldas, ele se mostra extremamente inteligente para a idade como que esperasse mais da mãe.

Em outro momento drástico da relação da mãe e filho é quando Eva, irritada pelo garoto ter sujado as fraldas, joga-o no chão, fazendo com ele quebre o braço. No hospital, a médica que o atendeu repreende a mãe dizendo que estava ali um menino especial. Ao chegar em casa, Kevin mente ao pai dizendo que ele caiu acidentalmente da mesa num momento de distração da mãe. Mais maquiavélico do que isso é a expressão de satisfação do menino quando a mãe o joga no chão, como se dissesse: “enfim minha mãe demonstrou algum sentimento por mim”. Ou contente por ter um trunfo sobre a mãe.

A situação piora quando Eva engravida novamente e Celia vem ao mundo e a caçula passa a ser constantemente torturada por Kevin. O que os pais fingem ignorar mesmo quando desaparece o hamster de estimação da garota ou quando um grave acidente acontece com a menina.

A situação limite é quando o casamento dos pais chega ao fim e Kevin provoca uma chacina na escola depois de ter cometido outro crime igualmente brutal ou ainda pior.

Essa é angústia de toda a história de ótimas atuações, roteiro inteligente e fotografia rebuscada, que abusa dos tons vermelhos, para ajudar a criar um clima violento em quase todas as cenas. Diferente de “Elefante”, de Gus Van Sant, que mostra uma juventude apática e moralmente vazia ou do documentário “Tiros em Columbine”, de Michael Moore, que mostra a parcela de culpa do governo e sociedade americanos por chacinas, Precisamos falar sobre o Kevin vai ainda mais longe.

Mostra que, terrivelmente, uma pessoa pode vir a se tornar um criminoso se a educação em casa falhar. Neste caso, é a angústia de a mãe entender o porquê do acontecido que percorre todo o filme. O filme sutilmente mostra a perspectiva perturbadora de Kevin, mas Eva, mesmo dois anos após o massacre não entende. Se tivesse entendido isso desde a infância do menino, a vida da família e dos colegas da escola poderia ter tido um futuro diferente.

Título Original: We Need to Talk About Kevin
Direção: Lynne Ramsay
Elenco: Tilda Swinton, Ezra Miller, John C. Reilly, Ashley Gerasimovich
Roteiro: Lionel Shriver, Lynne Ramsay, Rory Kinnear
Origem: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
Estreia: 2011 – Brasil: 2012

6 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente, leia o Livro.

Sempre o livro é muito melhor que o filme, mas poucas vezes, um filme distorce tanto o seu roteiro como o caso do "Precisamos Falar sobre o Kevin".

O Livro faz refletirmos profundamente pois mostra com mais complexidade a personalidade de Kevin, nos fazendo pensar se existem ou não crianças que desde bebes sejam psicopatas.

Mostra que o fato da familia nunca ter falado sobre o Kevin resultou na tragedia que aconteceu.

Até que ponto não debatemos assuntos que podem ser considerados tabus, como o odio de um bebe pela mae, sim. Kevin chorava copiosamente nos braços da mãe e silenciava nos braços do pai.

Talvez, se o pai ausente resolvesse Falar sobre o Kevin em vez de tapar o sol com a peneira e a mae e o filho recebessem tratamento o quanto isto não podia ser evitado.

Precisamos Falar sobre o Kevin é um alerta para a falta de dialogo entre os pais e um apelo para a discussão franca dos problemas de relacionamento familiar.

Infelizmente nada disto é discutido ou colocado nos escassos 90 minutos do filme.

Não assistam esta porcaria.

Anônimo disse...

Outro ponto, enquanto o filme é branco e preto, onde mostra Kevin como uma vitima de (como diz o review) uma mãe incapaz e um pai ingenuo, o livro é em escala de de cinza. Onde mostra o Kevin, Eva, o pai, todos como protagonistas atuantes e com igual parcela de responsabilidade pela tragedia.

Dificil saber se Kevin é uma vitima da falta de amor de uma mãe que via que alguma coisa estava errada com Kevin.

Dificil saber se Kevin não é um psicopata que não recebeu ajuda e tratamento porque o pai achava que estava tudo bem e que Eva estava vendo coisas onde não havia.

O fato é que se pai e mãe tivessem falado sobre Kevin de um modo aberto e franco, a solução teria sido encontrada.

André Alves disse...

Salve, anônimo.
Eu realmente quero muito ler o livro mas acho inocente comparações entre livros e adaptações para o cinema. Livros são quase sempre mais densos além de nos permitir entremear com nossa imaginação as lacunas oferecidas por textos dissertativos e narrativos.
Já um filme, o roteirista, a produção e a direção precisam escolher um foco e isso geralmente frustra muitos fiéis a obra adaptada.
No entanto, temos que considerar uma adaptação como outra obra e não como um retrato fiel ao seu original.
Não li o livro, como já disse, mas achei o filme espetacular.
E ao contrário de você, não achei que o filme seja preto no branco. é bastante cinzento, sim, e isso está bem evidente na minha crítica sobre o filme.
Todos os pontos que vc levanta estão no filme, sim. Com certeza não forma como no livro, mas muito subjetivamente, na maioria dos casos, até o último diálogo do filme, que revela à mãe o que era óbvio a Kevin.

Respeito sua opinião mas sinceramente, você leu o que eu escrevi e você, realmente, viu o filme?

Anônimo disse...

Sim, vi o filme.

E sei que existe esta distorção entre roteiro e filme. Mas confesso que poucas vezes vi tanta distorção.

Vc não cita a principal tese da mãe no livro e o ponto que coloquei nos meus comentarios: Kevin era um psicopata incuravel desde o momento que nasceu.

Eva não se sente culpada, pois diante deste fato, não havia muito o que ela pudesse fazer.

A ausencia de sentimento de culpa fica bem clara quando a mãe de uma das vitimas a processa por negligencia e ela se defende nos tribunais, em momento nenhum admitindo qualquer culpa pelo ocorrido.

É um taboo uma mãe pensar que o seu bebe é cruel e mal? É um taboo a existencia de um bebe psicopata? Taboo tão aterrador, que faz Franklin se recusar a "falar sobre Kevin".

O quanto os pais se alienam da realidade ao perceberem que o filho não é tão perfeito quanto desejam, é outra questão do livro.

Kevin não é simplesmente birrento.

Eva não é uma mãe que não encontrou a tão mitificada felicidade na maternidade. Ela é uma mãe que acha que tem algo errado com o filho ou com ela (ela não tem certeza) e não encontra acolhida para discutir estes problemas.

Longe de ser uma mãe austera. A relação de Eva com a filha Celia, é a retratada pelo livro, como uma relação de companherismo e cumplicidade. Ela é o contrario de austeridade para com a filha.

Voce coloca que se Eva tivesse entendido isso desde a infância do menino, a vida da família e dos colegas da escola poderia ter tido um futuro diferente...., nos meus comentarios e no livro coloco que se o Franklin tivesse entendido, a historia seria muito diferente.

Eva tem uma visão muito clara do problema e do porque aconteceu o que aconteceu. Afinal, o livro é composto por cartas que ela escreve para o marido morto.

Enfim, com ele morto, ela finalmente conseguiu que ele ouvisse o que ela "precisava falar sobre o Kevin".

Se vc gostou do filme, voce ira adorar o livro. É possivel encontra-lo disponivel para download na net.

É um livro aonde voce não consegue, de forma alguma, descobrir quem errou aonde.

Kevin é uma criança normal que foi transformada num psicopata por sua mãe doentia ou Kevin nasceu com uma doença psiquiatrica e a unica pessoa com lucidez para perceber isto foi a sua mãe?

O final, com Kevin na sua cela, brincando de bola de gude, com o olho de vidro da irmã que ele proprio cegou com acido e, meses depois, acabou assasinou com flechas mostra que ele não era apenas um criminoso.

Anônimo disse...

Da uma olhada neste review feito por quem gostou do livro e do filme.

http://www.pop4.com.br/4572-precisamos-falar-sobre-o-kevin.html

Vc vai entender que faltou para o filme deixar mais claro a psicopatia de Kevin e que, apesar dos erros que ela cometeu, Eva não é nem de longe a vilã da historia.

André Alves disse...

ok, anômimo. Não li o livro e me contentei em comentar o que compreendi do filme e da minha visão do mundo sobre paternidade e educação.

Fiquei ainda com mais vontade de ler o livro pelo o que você escreveu, mas quero comprá-lo.

Só não sei se, por ser narrado em primeira pessoa por meio de cartas, se o filho de Eva de fato era psicopata desde bebê ou se essa é a versão da mãe.

Mas só poderei julgar a história da obra quando ler.

No mais, agradeço a sua perspicaz e inteligente análise, ainda que discordemos em alguns pontos.

 
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