Jogos Vorazes

Adaptações de livros voltados ao público adolescente estão em moda no cinema. Depois dos bem sucedidos O Senhor dos Anéis, Harry Potter e da chatice Saga Crepúsculo, Jogos Vorazes é a adaptação da vez. A história até parece violenta demais para o público para o qual é destinado (12-18 anos), mas o roteiro do filme (não li nem vou ler os livros) é hábil em suavizar os momentos mais drásticos, o que pode ser um alento para as meninas, ao mesmo tempo em que é decepcionante para os meninos.

A história parte de um futuro apocalíptico onde os Estados Unidos estão divididos em 12 distritos. Nesse país alternativo há um sangrento reality show onde dois adolescentes (um menino e uma menina) de cada distrito são sorteados para participar dos Jogos Vorazes. A diferença é que o programa não é um BBB ou A Fazenda, mas sim um jogo de sobrevivência que vence aquele que ficar vivo.



É claro que os heróis da trama não são meninos comuns, – e o final é exatamente esse que você está prevendo agora – que vão lutar para sobreviver e a todo custo evitar a violência. Na boa escolha do elenco há Jennifer Lawrence (X-Men Primeira Classe e Inverno da Alma), que interpreta a protagonista Katniss Everdeen, uma arqueira que se oferece aos jogos para evitar a morte certa de sua irmã caçula, e Josh Hutcherson (Viagem 2 – A Ilha Misteriosa), que faz Peeta Mellark, um jovem de baixa autoestima, mas com ótimas qualidades. Completam o elenco nomes como Woody Harrelson (fazendo o mesmo papel caricato de sempre), Stanley Tucci (é mesmo um camaleão), Lenny Kravitz (quem diria?), Elizabeth Banks (irreconhecível) e Donald Sutherland (papai de Jack Bauer).

Um grande problema do filme é que este subgênero do cinema (competições mortais) é geralmente trash: Gamer, Corrida Mortal, Mad Max 3, O Sobrevivente, Rollerball e por aí vai. A lista é imensa e geralmente são bandidos e não criançada se matando. E conseguir fazer deste subtema uma história assistível é algo que Jogos Vorazes consegue fazer bem.

O que não gostei mesmo – além dos personagens dos jogos vorazes serem absolutamente unidimensionais, não há reviravoltas, traições, motivações dúbias: os bonzinhos são bonzinhos e os malvados são malvados – é que falta uma explicação mais convincente que motive o porquê de ninguém questionar a que a cada uma de suas 74 edições a morte de 23 crianças é um entretenimento justificável.

A explicação pode vir nos filmes seguintes já que – ainda que duvide que a maioria da garotada que viu e gostou tenha percebido – alguns detalhes da trama que insinuam uma complexidade maior: o porquê do personagem de Harrelson estar preocupado com o que os meninos fizeram; a morte não explicada do pai da heroína e o seu “broche da sorte”. Além disso, há outros temas de fundos que deverão ser desenrolados: a passagem para a vida adulta, a ditadura, o entretenimento como manipulação das massas...

Ou seja, não chega a ser ruim, mas acho que na minha adolescência os filmes voltados para essa faixa etária eram melhores principalmente porque eu não lia enlatados americanos e ingleses. Esse tipo de filme até vejo por curiosidade (e incluo todos os citados no primeiro parágrafo), mas não me atrai, mesmo.

Talvez se fosse uma história mais madura – sem aqueles figurinos patéticos com direito a delineadores dourados, vestes da idade média, da revolução francesa, barbas engraçadas e cabelos roxos e rabinhos de cavalo – haveria um apelo mais universal.

PS. Se coubesse uma piadinha, diria que os produtores dos atuais realities tem uma grande dica aqui que não deveriam desperdiçar.


Título Original: The Hunger Games
Direção: Gary Ross
Roteiro: Billy Ray, Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Stanley Tucci, Lenny Kravitz, Elizabeth Banks, Donald Sutherland
Origem: Estados Unidos
Estreia: 2012