Um dos grandes marcos da teledramaturgia brasileira merecia uma adaptação para o cinema. Considerando a fase de consolidação do cinema brasileiro e eleições presidenciais vindo aí, trazer O Bem Amado às telonas é uma estratégia acertada da Globo Filmes. E tal qual a versão televisa, a versão cinematográfica, traz uma safra dos melhores atores que a poderosa Vênus platinada tem a sua disposição. O resultado é bom, mas apesar disso, é aquém do que a obra de Dias Gomes merecia.
A direção de Guel Arraes está comprometida pela sua própria qualidade. O que foi excepcional em O Auto da Compadecida surge repetitivo em O Bem Amado, ainda que as gags verbais da trama sejam seu ponto alto, pareceu faltar inovação na direção, tal qual Marco Nanini fez com seu Odorico. Bem diferente da criação original de Paulo Gracindo mas um bom personagem genérico e tão caricato que é quase impossível não listar uma meia dúzia de políticos que se encaixam bem na descrição do personagem, seja lá qual for sua verve política.
A história de um político do interior que usa da sua influencia econômica, seu poder de persuasão (na maioria das vezes de enrolação mesmo) e abuso do poder para desviar recursos e fazer caprichos pessoais é universal, não brasileiro. Mas produzir uma história dessa sem ser chato ou pedante não e fácil. E nisso vários pequenos problemas se apresentaram na história.
As expressões de Odorico. Como uma metralhadora, Odorico despeja frases e mais frases que assassinam a língua brasileira numa velocidade tão estonteante que às vezes o que ele fala fica até ininteligível e pode ser que muitos espectadores nem se dêem conta dos absurdos expressados.
Didatismo. Muito pedante querer fazer um paralelo da história de O Bem Amado com a ditadura no Brasil e pior ainda é mostrar antes dos créditos finais um globo terrestre e trocar a palavra Brasil por Sucupira... Até uma criança de um ano de idade teria entendido a metáfora sem essa desastrosa cena.
Enredo enxuto. A história da inauguração de um cemitério que moveu uma novela e uma série nas décadas de 70 e 80 é muito pouco para um filme, se não for bem conduzida. E não foi, o que deixou muitas vezes uma sensação de que a história já estava se arrastando mais do que devia.
Além disso, não tem como não comparar o Dirceu Borboleta de Matheus Nachtergaele com o de Emiliano Queiroz e o Zeca Diabo de José Wilker com o de Lima Duarte. E, sem nenhuma dose de saudosismo, pois era muito novo quando a série ia ao ar, as interpretações originais são bem melhores pois são tão caricaturais quanto às de Odorico Paraguaçu, ajudando a transformar todos os personagens em uma caricatura da sociedade como um todo e não só de os políticos.
Por outro lado, as irmãs Cajazeiras dão um show à parte e as cenas com elas são as melhores do filme. Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes tem um timing cômico perfeito com Marco Nanini e funcionam bem também com Bruno Garcia e com Nachtergaele. Já o mesmo não dá pra dizer do par romântico sem sal de Caio Blat e Maria Flor. Além de ser um romancezinho sem sal e sem nenhuma conseqüência a trama do filme. Numa versão enxuta de O Bem Amado sem o pedantismo e sem essa historieta, caberia certinho num especial de fim de ano da Globo.
Fazer adaptações é um desafio e sempre vai gerar polêmicas entre os saudosistas e os entusiastas mas reduzir uma novela de 200 capítulos em uma hora e meia é um desafio ainda maior. Parabéns ao elenco, direção e produção, mas se o roteiro fosse melhor trabalhado poderíamos ter um Bem Amado e Bem Acabado.
Nota 08
1 comentários:
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- David
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