Agora o inimigo é outro. Este é o subtítulo de Tropa de Elite 2, uma produção mais bem acabada enquanto filme, com roteiro aprofundado, mostrando um retrato muito mais complexo da violência do que a visão rasteira do primeiro. Tudo bem que é narrado pelo capitão, oops, coronel Nascimento, mas foi justamente essa visão rasa que gerou várias explicações e pedidos de desculpas do diretor José Padilha.
Nesta sequência, Nascimento descobre que é só uma marionete depois que o quase bonzinho André Mathias decide matar a sangue-frio um bandido que negociava trégua numa rebelião em Bangu 1. Aí, caberia até uma frase não dita do comandante do BOPE: “A diferença entre o bandido e a polícia é a farda, parceiro”. A tragédia afasta Mathias e Nascimento. O primeiro vira aspira novamente e o segundo é promovido, por motivos políticos e tortos, é verdade, a subsecretário de segurança.
Somente quando está por cima é que ele percebe que o problema é muito mais grave do que podia imaginar e que ao combater o tráfico, deu vazão a um vilão muito mais poderoso e violento: os milicianos, que são estimulados, mantidos e financiados pelos políticos de todos os escalões e poderes. Isso sem falar da mídia, que apóia a violência das ações policiais e milicianas por meio de Josés Datenas da vida enquanto a grande imprensa se omite por ferir interesses de grupos econômicos e políticos. E tem candidato que ainda fala em do medo da censura da imprensa, como se já não houvesse há tempos uma auto-censura, calada por dinheiro e favores políticos e não pela força.
Essa visão é a grande força dessa nova história, que revela um fim trágico ao personagem que deveria ter sido o principal na primeira história e mostra que nem mesmo os mocinhos são mocinhos. Como não achar que tem uma moral torta o professor de história e ativista de direitos humanos que faz vista grossa a 100 gramas de maconha e que usa a violência do BOPE como trampolim político? E como não tratar Nascimento como Bandido por ter transformado Mathias em assassino, e ter agido por motivos torpes no primeiro filme e ordenado a morte de bandidos e inocentes em nome de um bem comum que seria o combate ao crime organizado.
E se estes são os mocinhos, o que esperar dos bandidos? A escória da polícia. Com mais facilidade que pobre sem perspectiva entra no tráfico policial entra no crime, pois já tem credencial (distintivo) e patrocinador (políticos). E nesse ponto reside a maior coragem dos realizadores dos filmes, ao concluir o que todos pensam, mas a maioria não tem coragem de dizer: somente uma meia dúzia de políticos são ficha limpa e a polícia (do Rio de Janeiro) deve acabar.
Pena que, diferente de Jack Bauer, da série 24 horas, que é a versão americana de Nascimento, este se limita a sua insignificância ao saber que pode resolver uma questão, mas que não tem como, sozinho, vencer o sistema. E este é o ponto fraco do filme: o Bope não vai acabar com o tráfico botando mais milicos nas favelas e nem um depoimento numa CPI virará uma catarse. E se a diferença entre um bandido e um policial é a farda; a diferença entre o policial e um político é a gravata, que um usa e o outro dá.
PS. A mídia toda engoliu o erro (de propósito?) do pressbook de Tropa de Elite 2. Como o segundo filme pode se passar dez anos depois da primeira história se no original, que se passa em 1997, seu filho acabara de nascer e na continuação ele está com 16 anos? O filme se passa 16 anos após os acontecimentos do primeiro filme. Num futuro próximo, então, e não nos dias de hoje.
Nota 09
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terça-feira, outubro 19, 2010
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2 comentários:
Depois de cenas empolgantes, sai decepcionado da sala de cinema.José Padilha perdeu uma rara oportunidade de não fazer parte do sistema. O discurso do filme é um palanque (discurso pronto) para quem realmente manda no sistema e que o filme mostrou como figurantes (governador e caciques políticos). O dia que Padilha tratar o poder sem moralismo talvez ele consiga o que ele pretendeu TE 2. Ademais, usou alguns clichês.
Padilha seguiu a cartilha de Hollywood e fez um filme impecável comercialmente, bem produzido, com boas atuações e roteiro coeso, ainda que com problemas.
O moralismo errado do primeiro e torto do segundo é o grande problema. Por isso recomendo a releitura de Cidade de Deus e o documentário Dançando com Deus, que se complementam, e sem pseudos moralismos.
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