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quinta-feira, junho 23, 2011

O Quarto Poder

Um dos filmes mais acessíveis de Costa Gavras (diretor grego que realizou em 1973 Estado de Sítio, sobre a participação americana na ditadura no Uruguai), mas nem por isso O Quarto Poder é um filme menos político, tampouco simples.

A partir de uma coincidência hollywoodiana a história banal vai trazendo novos elementos, muitos dos quais só quem conhece um pouco do mundo do jornalismo irá perceber. Dustin Hoffman interpreta Max Brackett um repórter que se deu mal em Nova Iorque e trabalha numa afiliada local no interior dos Estados Unidos. Ao cobrir uma pauta tola no museu da cidade entra em cena Sam Baily, o personagem ingênuo e infantil de John Travolta, em um dos seus melhores papéis. Sam é um funcionário que foi demitido do museu e para tentar ser ouvido pela curadora do museu e obter seu emprego de volta decide ir armado e o resultado disso será catastrófico.

Com esses elementos, poucos personagens e cenários, Costa Gavras desnuda muitas das facetas da mídia. Seja o jornalista ambicioso que vê uma oportunidade de reabilitar sua carreira, a jovem foca que se encanta com um jornalista famoso, o âncora que se acha o dono da verdade... E isso é a parte da imprensa convencional. Os jornalistas de tablóides também estão lá e na ânsia de terem uma matéria exclusiva agravam a situação, que faz chegar ao clímax do filme.

O Sam de John Travolta é um personagem simples, que por inocência se enrolou numa trama midiática que transformou o desastrado funcionário em um símbolo de desespero e posteriormente num psicopata. A forma como ele é manipulado por Max é um exemplo claro de muitos fatos que acontecem na mídia cotidianamente. Casos como a Escola de Base em São Paulo, em 1994, uma bolinha de papel nas eleições presidenciais passadas ou a ocupação das favelas pelo exército no Rio de Janeiro são alguns dos exemplos em que a mídia extrapolou seu papel julgando sem provas, aumentando os fatos ou defendendo abertamente um lado sem ouvir as partes envolvidas.

Em O Quarto Poder todas essas questões são abordadas ainda que num microcosmo restrito a um museu e seu ex-funcionário que mantém crianças como reféns. Ainda que Sam/Travolta seja um refém de seu casamento (é controlado pela esposa), refém de seu patriotismo (serviu a aeronáutica mas não conseguiu ser piloto) e refém da sua própria limitação intelectual ele é mais libertário que seu amigo e rival, o jornalista Max/Hoffman.

Max, o jornalista, é preso no seu mundo de pseudocelebridade e seus conceitos de notícia e ética que são meio turvos durante boa parte do filme. Quando o circo que ele monta se torna muito maior do que ele, o estrago é inevitável.

O filme o Quarto Poder se mostrou muito mais interessante pra mim quando vi desta vez do que das duas primeiras vezes que assisti quando ainda era um jovem estudante de jornalismo, ingênuo como o editor da emissora de TV do interior do filme. Talvez o único personagem caricato da história. Não, não estou dizendo que não acredito na ingenuidade. Muito pelo contrário. Só não acredito que seja possível em alguém que trabalha há vários anos com a mídia. Não há espaço para isso. E como no filme, nem para arrependimentos!

Nota 09


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2 comentários:

Anônimo disse...

Faz um tempo que assisti esse filme e, desde então, tenho como referência quando o assunto é manipulação dos meios de comunicação, ao lado de A REVOLUÇÃO NÃO SERÁ TELEVISIONADA, e também com um clássico dos filmes de que defino como "drama jornalistico", como TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE e o recente INTRIGAS DE ESTADO. Só faltou a expressão que melhor coube para definir o personagem de J. Travolta em uma situação como essa: inocente útil.
VINÍCIUS BORGES

André Alves disse...

Bem lembrado Vinícius. E Todos os Homens do Presidente é também com Dustin Hoffmann.

 
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