Google+ Cinema e Mídia: O Dublê do Diabo

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segunda-feira, abril 02, 2012

O Dublê do Diabo


Essa produção belgo-holandesa é sobre a historia (até certo ponto, verídica) de Latif Yahia, que foi dublê de corpo de Uday Hussein, no final dos anos 80 e começo dos anos 90. Pra quem não se ligou no nome ainda, Uday era o filho mais velho de Saddam, aquele mesmo ditador do Iraque demonizado pelos Estados Unidos.

O filme tem alguns trunfos na manga: a boa seleção de atores como a bela francesa Ludivine Sagnier (de Inimigo Público Nº1) no papel de Sarrab, uma mulher misteriosa e sedutora. E, claro, o britânico Dominic Cooper, de Sete Dias com Marilyn, que vem mostrando talento um filme após outro. Aqui ele interpreta bem Latif, embora soe às vezes um pouco ingênuo, e o filho da... do ditador, embora às vezes um tanto quanto exagerado.

Outro trunfo está no afastamento político da trama, centrando mais na insanidade de Uday e de como Latif iria lidar com aquela situação de estar como numa prisão perpétua. Ainda mais que não era uma opção ele não aceitar “o cargo” e representar Uday nas missões mais perigosas. De acordo com o verdadeiro Latif, no livro homônimo que escreveu, foram 11 atentados contra sua vida na pele de Uday.

Sim, o “bom-mocismo” americano está lá, mas Saddam é caracterizado neste longa como uma pessoa quase comum, com um filho problemático. Tudo bem que em certa altura do filme ele quase castra seu próprio filho com uma espada, mas nada que lembrasse o monstro retratado pelos ianques. E isso é importante dizer por que, de certa forma, serve para acentuar a personalidade tempestiva de Uday.

Agora os problemas do filme. O principal é o irregular, pra não dizer ruinzinho, diretor, Lee Tamahori, que tem aqui provavelmente o melhor alcance de seu limitado talento. Entre seus últimos filmes estão O Vidente, com (sempre ele) Nicolas Cage e XXX2 – Estado de Emergência. Apesar de ter algumas boas cenas de ação, não consegue criar um suspense crescente que justifique todo o desfecho do filme. Coisas piores foram feitas por Uday antes que Latif resolvesse virar a mesa. Outra coisa ruim é que passagens importantes foram mal explicadas. Porque Uday não deixou Latif morrer? Porque Sarrab fez o que fez? Como Latif conseguiu dinheiro para suas ações finais?

Outro problema é que como o filme é baseado no livro do próprio Latif, muitas informações podem ter sido romanceadas para distinguir o “mocinho” do “bandido”. Mas nada que a gente não possa relativizar.

Apesar dessas falhas, no saldo, é um filme que vale a pena ser visto, mais pela boa atuação e pela versão não estadunidense da guerra do golfo. E principalmente pelo efeito maléfico que muitas vezes pessoas poderosas causam aos seus filhos, ainda que não necessariamente por vontade. O primogênito de Hussein, em grande medida, representa um filhinho de papai inconseqüente que acha que pode fazer tudo porque é filho de um dos homens mais temidos do século passado.

Tal sentimento de onipotência não é incomum em filhos de poderosos mundo afora e não seria diferente no Brasil.Filhinhos de papai se sentem no direito de queimar índios, mendigos, estuprar meninas, espancar negros, homossexuais, travestis e atropelar ciclistas. Se acham uns super-heróis, uns super-homens, uns Thor ou uns homens-de-ferro.

Pena que nem sempre eles encontrem  punições como as que Uday sofreu.


Título original: The Devil's Double
Direção: Lee Tamahori
Elenco: Dominic Cooper, Ludivine Sagnier, Mimoun Oaïssa, Philip Quast, Mem Ferda, Dar Salim, Raad Rawi
Roteiro: Michael Thomas, Latif Yahia
Origem: Bélgica
Estreia: 2011

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